Queridos irmãos ,religiosos e leigos da Família pavoniana:
Espero e desejo que tenhamos começado o novo ano de 2022 com esperança, idealismo e alegria. Durante este ano, abramo-nos às surpresas de Deus, que são sempre expressão de seu amor para conosco. Abramo-nos, também, às surpresas de nossos irmãos, religiosos e leigos, pois neles e nos acontecimentos da vida, o Senhor continua a nos falar. Abramo-nos aos adolescentes e jovens, especialmente aos mais vulneráveis, com os quais nos encontraremos em nosso caminhar diário e deixemo-nos evangelizar por eles.
Todos recebemos, especialmente na Europa, a notícia de que pe. Gianni Vettori será nomeado “filho adotivo” da cidade de Cáceres (Espanha). Acredito que é um merecido reconhecimento por sua dedicação, durante tantos anos, aos adolescentes e jovens pobres desta cidade. Sentimo-nos orgulhosos de que um pavoniano receba este reconhecimento e pedimos a Deus, por intercessão de S. Ludovico Pavoni, que continue a acompanhá-lo na bonita missão que realiza.
Comunico oficialmente que pe. Carlo Cavatton, que havia sido destinado a Filipinas e estava esperando poder incorporar-se lá, depois da morte de pe. Claudio Santoro, foi destinado à comunidade de São Barnabé, em Roma, como vigário paroquial e coordenador das atividades socio assistenciais da mesma.
No último Conselho geral ampliado, elencamos os temas de cada ano para este sexênio e foram comunicados a toda a Família. Estes temas estão muito em sintonia com o caminho que a Igreja está fazendo. Papa Francisco, em sua última Encíclica Fratelli tutti, nos diz que para construir um mundo melhor, somente podemos fazê-lo por meio da fraternidade universal, sem excluir ninguém, por sua raça, cor de pele, ideias políticas ou religião. Por outro lado, ao convocar um Sínodo sobre a sinodalidade, está nos indicando o modo de ser e viver no mundo e na Igreja de hoje. Estes temas estão também muito em sintonia com as indicações do nosso último Capítulo geral, que nos recorda a importância da fraternidade, da missão compartilhada, da formação pessoal e comunitária e da visão global de toda nossa realidade.
Estamos imersos no processo sinodal que pede a participação e a colaboração de todos, em nivel pessoal, comunitário e eclesial. Acredito que nos pede, também, converter nossa mente e nosso coração para vivermos, em nossa realidade cotidiana, de maneira sinodal.
Sinodalidade significa: “entender a vida como um caminhar com outros, quer dizer, juntos”.
A sinodalidade não é um tema a mais a ser refletido; é um modo de ser Igreja, de ser vida religiosa, de ser Família pavoniana. A sinodalidade é um estilo de viver e trabalhar.
Chama-nos a nos colocar a caminho, porque estamos sempre em processo de construção de nós mesmos. Porém, vivemos uma realidade tão aberta, que nossos atos podem nos construir como seres humanos ou nos desumanizar. Assim, pois, temos que escolher o caminho que conduz à humanização e não o que nos desumaniza. Mas, isto não é tão fácil, porque a ordem estabelecida propaga por todos os meios o caminho da qualificação para obter êxito, sacrificando, porém, a realização autenticamente humana que se dá na entrega de nós mesmos, gratuita, aberta e sem excluir ninguém.
O caminho de humanização é um caminho realizado com outros, quer dizer, juntos, recebendo a contribuição dos outros e entregando-nos a nós mesmos. A este propósito, nossa Regra de Vida, ao nos falar da construção da fraternidade, é muito clara: “Por sua vez, cada irmão sente o dever de contribuir para o crescimento de sua comunidade, dando gererosamente o melhor de si, integrando a sua mentalidade e a sua ação no empenho comum, favorecendo o espírito de colaboração e união”. (RV 123). É certo que somos diferentes quanto a capacidades, mentalidade, cultura, funções desempenhadas…Estas diferenças não devem se converter em fonte de hierarquização e discriminação. Fundamentalmente, todos somos pessoas com igual dignidade e assim devemos nos tratar. As diferenças têm que se traduzir em um serviço mais qualificado e não em nos considerarmos superiores aos outros, discriminá-los e, inclusive, explorá-los ou excluí-los. Caminhar com outros não significa somente habitar em um mesmo espaço, nem mesmo que todos tenhamos as mesmas leis e, tão pouco, que un líder, uma organização ou um projeto nos uniformizem a todos. Caminhar juntos não quer dizer deixar de ser nós mesmos. Como muitas vezes repetimos, não busquemos a uniformidade, e sim a unidade. Caminhar juntos significa que vivemos abertos a todos em uma reciprocidade positiva, que colocamos tudo em comum e que tratamos a todos fraternalmente.
Jesus, modelo de sinodalidade, de caminhar com outros
- Não se apresenta como o esperavam, impondo-se para derrotar o poder estabelecido e estabelecer o reino invencível dos santos de Deus (cf. Mt 16,21-22; At 1,6; Lc 24, 19.21);
- Para Jesus, impor-se era incompatível com sua humanidade e com a humanização dos seres humanos (cf. Jo18,36-37; Mc 10, 42-45);
- Sai de sua casa, deixa sua família e seu trabalho e vive no caminho (“O Filho do Homem não tem onde reclinar acabeça” Lc, 9, 58) e vive com os que vivem no caminho: os sem teto;
- Suas relações se baseavam na entrega de si mesmo, gratuita e aberta;
- Deu-se todo por inteiro e também recebeu. O dar e receber era em total liberdade, como expressão do amor;
- Com seu modo de caminhar junto às pessoas, instaurou a reciprocidade de dons e desterrou o “toma lá, dá cá”.Nisto consiste a sinodalidade praticada por Jesus.
Nosso último Capítulo geral nos anima a viver a sinodalidade, a caminhar juntos
O próprio lema do Capítulo: “Partiram sem demora” nos faz entender que devemos caminhar juntos, “partindo da comunidade, com ela e para ela” (DC 3).
Qual é o objetivo de caminhar juntos?: “Caminhar junto aos jovens, querida vinha do Senhor” (RF), realidade preciosa a seus olhos e aos nossos, porque aprendemos, nas pegadas de Pavoni, a conceber a respeito deles as mais belas esperanças e a acompanhar seu crescimento com a paciência e a confiança a do agricultor” (DC1). “Esta realidade nos questiona e pede que verifiquemos o nosso modo de estar com os jovens e a nossa capacidade de escutá-los e de trabalhar com eles. Devemos procurar, o mais possível, não perder nossa identidade carismática, que se concretiza na paixão em estar com os adolescentes e os jovens” (DC 11).
Com que instrumentos contamos?:
· “Com Cristo ressuscitado, porque o encontro com ele aqueceu nosso coração e nos inflamou do amor de Deus"(DC 1). “Viver a graça da partida. Essa é a condição da presença do Senhor: somente se nos colocarmos a caminho, ele estará conosco…Ele é o caminho e é no caminho que Cristo e o ser humano se encontram” (DC 3).
· “Com a confiança na fidelidade de Deus”;
· “Abertos às novidades e surpresas da história”;
· “Com uma comunidade em saída”;
· “Levando conosco a bagagem do amor” (DC 3).
Com quem devemos caminhar?:
· “Com toda a humanidade, por meio de um percurso “artesanal” de aproximação da civilização do amor, que apresenta, indissociavelmente, luzes e sombras” (DC 4). Sabemos que este caminho de humanização não é linear, não é fácil e sempre devemos pagar um preço. Neste caminho, “a prática da fraternidade se torna sacramento do divino e profecia de relações libertadoras. A fraternidade e a comunhão são, real e verdadeiramente, uma graça urgente e, ao mesmo tempo, ameaçada” (DC 4);
· Com os leigos “porque a alegria do Espírito, mais forte do que nossas tristezas e ressentimentos, mais forte do que as fraquezas e cansaços, nos impele a não ficarmos parados” (DC 1);
· Com a Igreja “acidentada”, mas desejosa de sair às periferias (EG) e de contribuir no cuidado da Casa comum (LS) (DC 1);
· Com o papa Francisco que nos convida e exorta constantemente a:
§ “Construir uma fraternidade aberta, que permita reconhecer, apreciar e amar a cada pessoa” (FT 1);
§ Sonhar juntos. “‘Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente […]; precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! […] Sozinhos, corre-se o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto que se constroem os sonhos’. Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos dessa mesma terra que nos abriga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” (FT 8).
Estamos convencidos de que nossa vivência como Família pavoniana pode contribuir muito para este processo sinodal. Faremos isso numa síntese das contribuições das comunidades, que enviaremos para que chegue na Secretaria do Sínodo. Este é um serviço que foi pedido à Vida Consagrada que caminha como povo de Deus, em comunhão com outros carismas e ministérios dentro da Igreja.
Também, estamos convencidos de que a maior contribuição é o testemunho de fraternidade e de sinodalidade, isto é, fazer juntos o caminho. Isto se realiza na vida cotidianade nossas comunidades e na realização da “missão compartilhada”. Sobre este aspecto refletiremos na carta seguinte, do mês de março.
Proponho que, durante este mês de fevereiro, todas as comunidades, junto com os leigos, leiam, reflitam e partilhem o conteúdo dos números 87-96 da Encíclica Fratelli tutti. Procurem tirar ensinamentos para a vida cotidiana e para a missão em andamento.
Agenda do mês
- O provincial da Espanha está fazendo a visita fraterna às comunidades do México e da Colômbia;
- No dia 2 de fevereiro, celebraremos o Dia Mundial da Vida Consagrada.
- 12-13: Reunião do Conselho provincial do Brasil;
- 19: Encontro de superiores e vice-superiores da Província Italiana
- Durante este mês, visitarei algumas comunidades da Itália, esperando poder viajar para visitar as comunidades das Filipinas.
Ponho o caminho de nossa família sob a proteção da Virgem Imaculada, nossa querida Mãe e de São Ludovico Pavoni, nosso Santo Fundador.
Um abraço fraterno e sempre agradecido
Tradate, 31 de janeiro de 2022
RicardoPinilla Collantes