A Família Pavoniana é uma realidade eclesial que é formada e se enriquece pela contribuição espiritual e operativa dos Religiosos Pavonianos e de Leigos que percebem a possibilidade de integrar, na sua vocação cristã, também algumas conotações específicas do carisma pavoniano. Trata-se, então, de uma nova forma de partilha e de colaboração fraterna. Por ela, na estima e no respeito mútuo pela vocação específica de cada qual, diferente e complementar, tende-se a concretizar um autêntico intercâmbio de dons para um enriquecimento de ambas as partes, a fim de construir, fraternalmente juntos, o Reino de Deus (cfr. RV 201), e promover aquela comunhão de tipo eclesial, que não é confusão ou uniformidade, mas diversidade que cria unidade sinfônica e orgânica. Ela é “família de Deus”, porque formada por pessoas, homens e mulheres, que têm a mesma dignidade de filhos e filhas de Deus recebida pelo Batismo; é “família eclesial”, porque tende a reproduzir em si relações de comunhão que são o essencial da Igreja como nos foi apresentada pelo Concílio Vaticano II; é “família pavoniana”, porque brotou no coração da Congregação Pavoniana. Estas duas palavras – família e pavoniana – precisam permanecer unidas: será sempre mais pavoniana quanto mais for família e será sempre mais família, quanto mais viver conforme o espírito e o estilo de vida do Bem-aventurado Pe. Ludovico Pavoni.
Todo Leigo que, por diferentes motivos, entra em contato com os Religiosos Pavonianos e com o carisma do Pe. Pavoni, torna-se um potencial membro da Família Pavoniana. Todo Leigo, que, a partir disso, conhece e acompanha com simpatia e estima as atividades desenvolvidas pelos Religiosos Pavonianos e sente em si o desejo de se deixar envolver pelo mesmo interesse e espírito, torna-se de fato membro da Família Pavoniana. Trata-se substancialmente de uma escolha de vida que tem, como base, uma vocação. É uma vocação laical particular, que brota no bojo de uma vocação laical comum (CFL 56). O fato histórico e contingente de ter encontrado esta específica instituição (a pavoniana), com toda certeza não é um acaso, sim a possível concretização de um convite (a vocação) do Senhor a partilhar, como Leigo, os ideais evangélicos propostos e vividos pelo Pe. Pavoni, e se apropriar, por quanto possível, do estilo de vida dele.Ao entrarem na Família Pavoniana os Leigos mantêm a sua identidade laical de homens e mulheres que, vivendo com alegria o seu batismo e os seus compromissos na família, na Igreja e na Sociedade, procuram, no seu dia-a-dia, trabalhar “com o coração de Ludovico Pavoni”, servindo ao Reino de Deus e comprometendo-se, segundo as suas capacidades e possibilidades, na atuação da missão pavoniana, até nas atividades próprias da Congregação.
Entre as motivações que levaram os Religiosos Pavonianos a entrar corajosamente no caminho com os Leigos a fim de realimentar e expandir o carisma do Pe. Ludovico Pavoni, salienta-se:
a) o progressivo amadurecimento a respeito da natureza da comunidade fundada por Cristo, definida pelo Concílio Vaticano II, e desenvolvida em sucessivos documentos eclesiais, a partir da Santíssima Trindade, como “eclesiologia de comunhão”, onde a diversidade não é somente uma riqueza, mas uma necessidade que brota e constrói a mesma comunhão; sim, porque a diversidade de vocações, de funções e de serviços, não é contraposição, mas complementaridade: “Na Igreja-comunhão os estados de vida estão entre si tão vinculados que são ordenados uns para os outros. Com certeza, comum, ou melhor, único é o seu significado profundo: o de ser modalidades segundo as quais viver a igual dignidade cristã e a universal vocação à santidade na perfeição do amor. São modalidades ao mesmo tempo diversas e complementares, pois cada uma delas tem uma sua original e inconfundível fisionomia e se põe em relação com as outras e ao seu serviço” (CFL 55). Tem-se a consciência de que, hoje mais do que nunca, o Espírito Santo convida os fieis leigos a viverem adequadamente o Batismo, tomando parte ativa, consciente e responsável na missão da Igreja. Nisso consiste a razão fundamental pela qual sentiu-se a necessidade de constituir uma única família, a Família Pavoniana;
b) uma concepção mais dinâmica do carisma pelo Espírito Santo concedido a Pe. Pavoni e transmitido aos seus seguidores, os Religiosos Pavonianos; é dom a ser colocado a serviço de toda a Igreja e nunca poderá ser propriedade privada dos mesmos, mas pode e tem que ser partilhado pelos Leigos: cada qual o concretizará em modalidades e peculiaridades próprias, mas todos juntos, sentindo-se corresponsavelmente operadores da e na mesma Família Pavoniana, participantes na mesma e comum missão, tendo como objetivo final a construção do Reino de Deus aqui e agora; por isso, a inserção dos Leigos nas atividades e na vida destes Religiosos não é uma benigna concessão da parte sua, sim obediência ao Espírito Santo que está à frente desta iniciativa; aos Religiosos cabe simplesmente reconhecer este dom (da presença dos Leigos) e agradecer com alegre gratidão; para todos, Religiosos e Leigos, fica o compromisso de viver hoje, fraternalmente juntos, o carisma do Pe. Pavoni;
c) o novo reconhecimento da vocação dos Leigos: os últimos documentos eclesiais destacam que a vocação também do cristão leigo consiste na tensão para a santidade e na participação na construção do Reino de Deus construindo a cidade terrena, onde se encontram a família, o trabalho, as amizades, os compromissos; a raiz e o significado da sua missão encontram-se no seu âmago mais profundo, indicado, pelo Concílio Vaticano II, nos Sacramentos da Iniciação cristã (de modo especial no Batismo) que o incorporam ao Cristo e o tornam membro da Igreja, que o fazem participante da função de Cristo sacerdote – rei – profeta a ser exercitada na sua específica condição de Leigo, e que, pela fidelidade e coerência com as riquezas e as exigências de seu próprio ser de leigo cristão, lhe conferem a dignidade de “homem de Igreja no coração do mundo e homem do mundo no coração da Igreja” (Doc. de Puebla, 786); o Leigo pavoniano é, assim, um autêntico discípulo de Jesus Cristo, que vive a sua fé e a sua vida inserido na realidade do mundo de hoje, com o coração de Pe. Ludovico Pavoni;
d) a convicção de que a Comunidade Religiosa Pavoniana encontra na Igreja, assim como hoje é concebida, o campo natural para viver e testemunhar o seu próprio carisma, e na comunidade humana local o espaço privilegiado onde desenvolver o seu serviço; assim os Religiosos Pavonianos, como Igreja que são, não podem deixar de fortalecer a sua “participação – condivisão carismática” oferecendo aos Leigos a possibilidade de participar do espírito, do estilo de vida e das responsabilidades que nascem do próprio carisma e do seu compromisso apostólico; trata-se de não mais trabalharem sozinhos, agindo “em nome da Igreja” (em força da missão eclesial recebida), mas de agirem “enquanto Igreja”, reconhecendo que é o Espírito Santo que “constitui a Igreja numa comunhão orgânica na diversidade de vocações, carismas e de ministérios” (VC 31).
No ano de 1990 o Capítulo Geral dos Religiosos Pavonianos, atendendo a um explícito convite do Capítulo anterior (“O Capítulo sugere que… sejam estudadas as formas mais oportunas a fim de envolver os leigos, adequadamente preparados, para que possam viver o nosso carisma e estar conosco na missão, manifestando, deste jeito, a fecundidade e a atualidade do carisma pavoniano na Igreja do nosso tempo”), deu início ao movimento da Família Pavoniana. O Documento Capitular assim o descreve: “Os Leigos pavonianos fraternalmente juntos com os Religiosos, (irmãos sacerdotes e irmãos leigos) constituem aquela que gostaríamos de chamar a ‘Família Pavoniana’. Seguindo as pegadas do Pe. Ludovico Pavoni, está presente e atua no mundo da juventude, no campo das comunicações sociais e nas atividades pastorais”. É a primeira vez que um Documento Capitular dedica uma parte significativa à colaboração Religiosos – Leigos, mesmo que o mesmo teve uma significativa preparação nas reflexões e experiências amadurecidas na segunda metade dos anos oitenta. Desde o ano de 1986, na Itália, a Consulta particular organizada pelo Superior Geral, com o relativo documento “Rumo à Família Pavoniana”, desencadeou uma profunda reflexão a respeito da oportunidade de abrir aos Leigos também a possibilidade de conhecer e de se deixar envolver na atuação do carisma pavoniano, junto com os Religiosos. O Documento lembrava que o carisma pavoniano possui uma notável força de agregação e pode oferecer espaços para uma ampla participação dos Leigos; que a atuação do carisma pavoniano, para que possa difundir-se e concretizar-se, precisa prestar atenção aos “sinais dos tempos”, especialmente à nova visão eclesiológica, que levou à descoberta do lugar e da tarefa dos Leigos na Igreja; e que as comunidades pavonianas precisam se tornar mais sensíveis e criativas, envolvendo mais no espírito do Fundador, nos métodos educativos e no tradicional “espírito de família” os Leigos que colaboram com os Religiosos Pavonianos, especialmente nos centros educacionais e nas paróquias. No ano de 1987, a Consulta Geral da Congregação Pavoniana reiterava o mesmo convite no que dizia respeito à “Irradiação Pavoniana”. Nos dias 29 e 30 de outubro do ano seguinte, em São Paulo, a Região Brasileira, reunida em Consulta sobre o tema: “Os Leigos na Família Pavoniana”, deu a largada à Família Pavoniana no Brasil. Assim, quando o 34º Capítulo Geral do ano de 1990 se reuniu, com o lema “Fraternalmente juntos com os Leigos para a missão”, o terreno já estava pronto para acolher a sua mensagem e assumi-la de vez.
Entre os Religiosos e Leigos estabelecem-se mútuos relacionamentos, isto é uma reciprocidade de carismas e ministérios que, em força da diversidade e da complementaridade, leva a evitar possíveis atitudes que suponham presumidas superioridades ou qualquer outra forma de instrumentalização, e a promover um encontro que seja fecundo para ambos. Os Religiosos acolhem como dom aqueles Leigos que continuam e tornam sempre mais atual a obra do Pe. Pavoni; os Leigos reconhecem que os Religiosos têm a tarefa de conservar a memória histórica e ser profecia do tempo futuro. Nesta lógica de comunhão eclesial, realiza-se uma autêntica “troca de dons” que se torna enriquecimento recíproco na comum tarefa de construir o Reino. Assim os Religiosos Pavonianos podem oferecer aos Leigos:
a) o testemunho de uma vida totalmente consagrada a Deus;
b) a “espiritualidade pavoniana”, isto é a proposta de imitar alguns dos aspectos da vida de Cristo segundo a intuição do Pe. Pavoni;
c) a partilha dos bens espirituais da Congregação (a comunhão dos santos, a oração…);
d) uma comunidade cristã que ora e entende orar pelos e com os Leigos;
e) o “método educativo pavoniano”, nascido das intuições e da prática educativa do Pe. Pavoni e de uma longa tradição pedagógica pavoniana;
f ) um canal de abertura à Igreja universal e às necessidades do mundo;
g) uma secular experiência no campo da cultura católica;
h) as estruturas e os bens materiais que podem ser sustentáculos providenciais às iniciativas apostólicas.
Os Leigos Pavonianos podem oferecer aos Religiosos:
a) a “espiritualidade laical” que lembra aos Religiosos o significado que as realidades terrenas têm no plano de Deus;
b) a experiência da “vida em família” como ponto de referência para a vida de comunidade e como modelo para toda proposta educativa;
c) a presença e a contribuição da sensibilidade feminina;
d) os estímulos para inventar respostas “pavonianas” aos novos desafios que o mundo de hoje lança aos Religiosos e à Igreja;
e) a atenção à Igreja local e às necessidades do território;
f) a contribuição da sua competência e do seu profissionalismo;
g) a coragem de testemunhar a sua fé no contexto social, político e cultural.
Graças a este intercâmbio de dons, a Família Pavoniana torna-se lugar de comunhão eclesial de particular valor e uma maneira significativa de viver “fraternalmente juntos”, tornando-se dom para a Igreja e para o mundo, pelo seguimento das pegadas luminosas do Pe. Ludovico Pavoni.
Guiado pelo Espírito, o Pe. Pavoni viveu e transmitiu aos membros da sua Família um estilo original de vida e de ação, uma típica experiência de doação a Deus e ao próximo, alimentada na oração e na meditação (a “assídua meditação do Evangelho”). Se for para comparar a estrutura espiritual que deixou, poder-se-ia dizer que, para o Pe. Pavoni, as raízes e o tronco são as virtudes teologais (“uma fé bem meditada… uma firme esperança… uma caridade bem acesa”); este tronco, porém, divide-se em três ramos principais que são as virtudes por ele definidas como características: a humildade, a simplicidade e a obediência; destas três ramificações dependem as outras virtudes exigidas tanto pela convivência comunitária, bem como para uma eficaz ação educativa.
O 35º Capítulo Geral propõe uma espiritualidade renovada com as seguintes características: agradecida, que exprime a alegria de ser salvos por meio do dom da salvação aos irmãos; jubilosa, que descobriu o Amor e o sabe testemunhar com simplicidade no cotidiano; encarnada, que sabe redescobrir o rosto de Cristo no rosto de cada criança, adolescente ou jovem que sofre ou é excluído; evangélica, que sabe anunciar a Boa Nova também no contexto da cultura de morte, típica da atual sociedade; eclesial, aberta às solicitações da Igreja, mesmo mantendo a sua própria característica pavoniana; comunitária, que sabe ser partilhada com a comunidade religiosa; pavoniana, que assume como norma de vida aquela caridade criativa que sabe encontrar o modo de ajudar a todos, com ânimo cordial e generoso (nº 8-9) .
Entende-se, assim, seguindo as indicações do 37º Capítulo Geral, “o modo característico dos Pavonianos de viver e de manifestar a compreensão da criação, do homem, da história e de Deus, à luz da sua Palavra e do seu contato cotidiano com as pessoas que a Divina Providência lhes confia. Tudo isso implica que, a exemplo do Fundador, os seus seguidores deverão se empenhar por realizar o programa Paulino de vida cristã: “a fé que opera por meio do amor” (Gal. 5,6), isto é, crescer como:
a) pessoas que sabem confiar-se inteiramente na Providência, para tornarem-se, também elas, providência para os outros;
b) pessoas em humilde escuta da Palavra de Deus e abertas para acolher o grito da pobre humanidade, especialmente as exigências dos jovens de hoje;
c) pessoas ricas de esperança e de confiança nos irmãos e nos jovens que o Senhor lhes confia, a fim de construírem para eles e com eles um futuro melhor;
d) pessoas simples e trabalhadoras, dispostas a acolher e partilhar os problemas do mundo onde a obediência os colocar;
e) pessoas dotadas de criatividade de iniciativa, de paixão educativa e de caridade industriosa.
Esta espiritualidade não está acabada, mas se plasma no cotidiano, a partir da experiência de fé (nº 22).
Tudo isso sem perda nenhuma da sua identidade própria de Leigo cristão. Por isso, não se trata propriamente de níveis ou de degraus que o colocam numa situação quase irreversível. Trata-se mais de “modalidades” a serem vividas, mesmo que seja temporariamente, visto que a sua vida, seja pessoal, seja familiar, pode sofrer mudanças que impossibilitem a permanência numa certa modalidade, obrigando-o a viver sucessivamente outra modalidade de pertença menos profunda ou exigente.
“Avancemos corajosos, seguindo as pegadas do nosso divino mestre, Jesus”, para sermos “testemunhas de esperança” para os jovens de hoje!
Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada
– Pavonianos –
Família Pavoniana – Coordenação Provincial
Isso implica o desejo e a vontade de partilhar, mais profundamente, do carisma, da espiritualidade e da missão, na prática do Evangelho segundo o espírito do Pe. Pavoni, para uma ulterior e mais radical vivência da consagração batismal. Para isso apresentarão o seu pedido ao Superior Provincial que nomeará um Religioso e um ou dois leigos da Família Pavoniana, a fim de acompanhá-los no aprofundamento do conhecimento e da prática da sua Fé, através da escuta da Palavra de Deus e da leitura dos Documentos da Igreja especialmente os que dizem respeito ao ser leigo; entrarão em contato sempre mais efetivo e afetivo com a história e os Documentos oficias da Congregação Pavoniana; e, ao longo de dois anos, poderão amadurecer a consciência desta vocação especial e a decisão de responder ao Senhor na Família Pavoniana. A tal fim encaminharão o seu pedido ao Superior Provincial, que, na base dos relatórios apresentados pelos responsáveis pela formação, poderá admiti-los à promessa e os “agregará” à Comunidade Pavoniana local.
Com isso assumirão, com maior generosidade e dedicação, o compromisso de estar mais presente na vida e/ou na missão da mesma Comunidade, com um serviço adequado aos dons e capacidades que Deus lhes deu, e à disponibilidade, de tempos e recursos, que a sua vida, familiar e profissional, lhes permitir. A Comunidade Religiosa, por sua vez, assumirá tais leigos como membros mais próximos de sua fraternidade; abrirá espaços e oferecerá recursos para que possam se sentir efetivos e úteis na sua vida e na sua missão; e assim os mesmos possam se realizar e efetivar como verdadeiros “leigos pavonianos” na Congregação e na Igreja.